quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Contagiado, Brasil goleia Portugal em noite de Luis Fabiano

O clima de festa fez bem ao Brasil e mais ainda a Luis Fabiano. A seca de gols em casa, o futebol pragmático como anfitrião e a desconfiança sobre a seleção não resistiram. Inspirado e contando com noite especial de seu camisa 9, o time de Dunga retribuiu o carinho do público com bonito espetáculo: goleou a forte equipe de Portugal por 6 a 2, na inauguração do novo Bezerrão, e garantiu um fim de ano em grande estilo.

Grande parte dos holofotes estava voltada para o duelo entre Kaká e Cristiano Ronaldo. No entanto, as atenções mudaram de foco rapidamente. Com três gols, Luis Fabiano encerrou o jejum ofensivo do Brasil em casa e se tornou o destaque da noite. Ofuscou as estrelas da partida e deixou o campo aplaudido quando deu lugar a Adriano.

"Estou na melhor fase dentro da seleção. Desta forma, vou continuar lutando para ser titular, apesar da desconfiança de muitos. Vejo isso [desconfiança] nas reportagens", comentou Luis Fabiano ao final da partida.

O resultado também fez bem a Dunga. Com postura serena desde sua chegada a Brasília na segunda-feira, o treinador respondeu aos rumores de que está perto de ser demitido vendo seu time mostrar desenvoltura. Na última apresentação da seleção em 2008, Dunga conseguiu o que não havia obtido ao longo do ano: um jogo tranqüilo no Brasil.

O treinador, porém, não acredita que o bom resultado possa aliviar a pressão que vem recebendo. "[As críticas] vão continuar do mesmo jeito. Precisamos estar preparados para encará-las. O importante é o relacionamento com os jogadores, que é muito bom dentro da seleção. Isso dá tranqüilidade para continuar o nosso trabalho", comentou Dunga

O oba-oba e o clima de festa que terminaram com gritos de olé começaram cedo no Bezerrão. Políticos e o presidente da CBF Ricardo Teixeira inauguraram oficialmente a modernização do estádio. Circularam pela área vip entre mulheres bonitas e gente influente antes de se dirigirem às tribunas. De seus confortáveis assentos, viram Pelé ser homenageado pelos 39 anos de seu milésimo gol e dar o pontapé inicial. Também assistiram à volta do piloto Felipe Massa como carona no carro da maca.

Mas nem todos os personagens do evento foram ovacionados no amistoso. Enquanto Kaká arrancou gritos e causou barulho quando teve o nome anunciado pelo sistema de som, Dunga recebeu vaias e mais vaias. Reflexo do futebol irregular que a seleção havia apresentado até então.

Quando a bola rolou, a tensão do treinador brasileiro aumentou. Bastaram quatro minutos e o primeiro gol de Portugal, anotado por Danny, para Dunga se levantar do banco de reservas. Surgiram as primeiras broncas e a expressão se tornou ainda mais fechada. Nem mesmo o gol de empate de Luis Fabiano, aos 8min, aliviou o comandante gaúcho.

Sorriso mesmo só aos 25min. Ao ver Luis Fabiano estufar as redes novamente, após linda jogada de Kaká, Dunga berrou, desabafou e abraçou o auxiliar Jorginho. Ele conseguiu até sentar por mais de um minuto, algo raro durante o primeiro tempo. Paralelamente, dentro das quatro linhas, Kaká e Cristiano Ronaldo faziam duelo particular.

Enquanto o português atuou aberto pela esquerda, longe do gol, Kaká ficou próximo dos atacantes brasileiros. Foi assim, por exemplo, que ele serviu Luís Fabiano no segundo gol. Em arrancadas rápidas, fez o público se levantar, esperançoso. Participou bastante do jogo e mostrou concentração.

Já Cristiano Ronaldo, tão festejado pela torcida local desde sua chegada a Brasília, foi tratado como rival. Quando errou passe, tentou uma "firula" e perdeu disputa com Anderson, acabou vaiado. Os torcedores ensaiaram até uma provocação. Aparentando certa desatenção, o atacante português mais desfilou do que jogou nos 45 minutos iniciais.

Mas o desfile que chamou mais atenção foi o da seleção brasileira. Mostrando inspiração, a equipe de Dunga sobrou no segundo tempo. Sufocou Portugal e desembestou a fazer gols. Maicon, Elano, Adriano e Luis Fabiano, pela terceira vez, foram às redes de Quim.

Kaká participou de um dos gols e deu assistência em outro. Não brilhou como Luís Fabiano, mas venceu o confronto particular com Cristiano Ronaldo. Os desempenhos não mudarão o resultado da eleição da Fifa de melhor jogador do mundo, que indica o português como grande favorito. Em sua terra natal, contudo, foi Kaká quem comemorou.

E quem festejou ainda mais foi Dunga. À beira do gramado, o treinador pôde finalmente respirar com mais calma. Até uma faixa na arquibancada surgiu pedindo a permanência do treinador, fato para lá de raro na trajetória do gaúcho na seleção. De volta à capital federal após três anos, a seleção brasileira certamente guardará com carinho a passagem pela cidade nesta semana.

BRASIL
Júlio César; Maicon (Daniel Alves), Luisão, Thiago Silva e Kléber (Marcelo); Gilberto Silva, Elano (Mancini), Anderson (Josué) e Kaká; Robinho (Alex) e Luis Fabiano (Adriano)
Técnico: Dunga

PORTUGAL
Quim; Bosingwa, Bruno Alves, Pepe e Paulo Ferreira; Tiago (Raúl Meireles), Maniche (César Peixoto), Deco (João Moutinho) e Danny (Nani); Cristiano Ronaldo e Simão (Hugo Almeida)
Técnico: Carlos Queiroz

Local: estádio Bezerrão, em Brasília (DF)
Árbitro: Jorge Larrionda (URU)
Auxiliares: Walter Rial (URU) e Pablo Fandiño (URU)
Público: 19.157 pagantes
Renda: R$ 1.392.380,00
Cartões amarelos: Elano, Luis Fabiano, Marcelo (Brasil); Danny, Cristiano Ronaldo (Portugal)
Gols: Danny, aos 4min, Luis Fabiano, aos 8min e aos 25min do primeiro tempo; Maicon, aos 10min, Luis Fabiano, aos 12min, Simão, aos 17min, Elano, aos 20min, Adriano, aos 46min do segundo tempo